terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

 

DETECTOR

DETETOR ou DETECTOR?
De acordo com os dicionários e com o "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", da Academia Brasileira de Letras, o verbo é "detectar", e o substantivo que designa o aparelho com o qual se detecta algo é "detector". No português do Brasil, há várias palavras em que o "c" e o "p" mudos são opcionais na escrita e na pronúncia.
"Contacto" e "contato", por exemplo, são equivalentes, o que também ocorre com "corrupto" e "corruto", "corrupção" e "corrução", "aspecto" e "aspeto", "expectativa" e "expetativa", "expectorar" e "expetorar", "secção" e "seção", "intersecção" e "interseção" etc. Em alguns casos, é notório o predomínio de uma das formas, o que ocorre com "corrupção" em relação a "corrução", ou "aspecto" em relação a "aspeto". Já em outros casos, como o de "contacto" e "contato", as preferências se dividem.
Há também situações como a de "seção" (muito mais usada do que "secção") e "intersecção" (muito mais usada do que "interseção"). Que é a "intersecção" (ou "interseção")? Nada mais do que a fração, a parte, ou seja, a "secção" (ou "seção") comum a dois conjuntos. Por algum dos indecifráveis mistérios da língua, preferimos "seção" a "secção", mas preferimos "intersecção" a "interseção".
Toda essa história de pôr e tirar o "c" deve fazer muita gente supor que sejam igualmente válidas as formas "detectar" e "detetar", "detector" e "detetor". Não custa lembrar que não é da noite para o dia que um vocábulo ganha registro. Além de tempo, é preciso que a forma tenha uso e registro cultos. O fato de os dicionários e o Vocabulário não registrarem "detetar" e "detetor" talvez se deva à baixa freqüência dessas formas na linguagem culta.

TIRE SUA DÚVIDA!

Um leitor me pede explicações sobre o emprego do verbo "informar". Esse verbo é um dos tantos que admitem mais de uma construção. Pode-se informar algo a alguém; pode-se informar alguém de/sobre algo. Portanto, são corretas as duas frases que você mandou ("João informou a situação ao amigo"/"João informou o amigo da situação").
Como se nota, há uma preposição de cada vez. No primeiro exemplo, surge a preposição "a" ("ao amigo") quando se introduz a pessoa que recebe a informação; no segundo, a preposição "de" ("da situação") é empregada quando se introduz o fato de que o amigo é informado.
As dificuldades talvez surjam quando se substitui um dos complementos de "informar" por um pronome oblíquo. De início, é bom lembrar que, em linguagem escrita culta formal, os pronomes "o" e "lhe" têm papéis distintos. O "o" substitui complementos verbais que não são introduzidos por preposição ("Não vi seu primo"/"Não o vi"; "Faz tempo que não abraço você"/"Faz tempo que não o/a abraço"). É o que ocorre em "João informou-o (ou "João o informou") da situação". Nesse caso, o pronome "o" substitui a expressão "o amigo".
O pronome "lhe" deve substituir complemento verbal introduzido por preposição ("a", normalmente). Em "João informou a situação ao amigo", a expressão "ao amigo" (introduzida pela preposição "a") seria substituída pelo pronome "lhe": "João informou-lhe (ou "lhe informou") a situação".
Isso se repete em estruturas compostas, como estas: "João informou-o de que não poderia comparecer"; "João informou-lhe que não poderia comparecer". Percebeu o que ocorre, caro leitor? No primeiro caso, temos o pronome "o" ("informou-o"), que substitui "o amigo". Se João informou o amigo, informou-o de algo. É por isso que depois do "o" surgiu a preposição "de" ("informou-o de que..."). No segundo caso, temos o pronome "lhe", que substitui "ao amigo", expressão introduzida pela preposição "a". Se João informou ao amigo, informou-lhe algo, e não "de algo". É por isso que, com o emprego do "lhe", some a preposição "de".
Convém dizer que os estudos da evolução da regência desse verbo apontam como originária a construção "informar alguém de algo".
O que se disse até agora a respeito de "informar" se aplica também quando se empregam os verbos "avisar", "cientificar" e "notificar", ou seja, é possível avisar (ou cientificar/notificar) algo a alguém ou avisar (ou cientificar/notificar) alguém de algo. Pode-se, pois, dizer que "João avisou (ou cientificou/notificou) o amigo da situação" ou que "João avisou (ou cientificou/notificou) a situação ao amigo".

23/01/2007

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